26/01/2008

Em algum lugar no passado



Vencedor de um prémio Emmy, 'Yesterday's Children' é um filme realizado para televisão e tem como base um tema universal: a reencarnação. Baseado em história verídica de Jenny Cockell, a sempre talentosa e bonita Jane Seymour dá vida a duas personagens separadas no tempo. Talvez o filme que aborda o tema de um modo mais respeitador e sério.
Google video tem a versão online; a qualidade das imagens não é a melhor, mas é sofrível. É uma versão dobrada em brasileiro, o que para quem não está, de todo, habituado, faz sempre confusão ouvir uma Seymour numa outra língua durante 90 minutos.

07/01/2008

Zé Arigó: Cirurgião de serviço

Zé Arigó, era o 'petit nom' pelo qual era conhecido o cidadão brasileiro José Pedro de Freitas, nascido em 1921 e criado, segundo o próprio o afirmou, 'a soro e angu, na Fazenda do Faria'.
Até aqui, poderia passar por mais um anónimo conterrâneo de milhões de brasileiros. Mas não.
Zé Arigó, estava destinado a causa maior: auxiliar os outros de uma forma que ele próprio desconhecia. Medicina e, particularmente, a cirurgia, nunca fizeram parte do curriculum académico de Zé, porém, essa seria a sua actividade principal. Como instrumento básico e único, uma faca de cozinha.

Tinha 21 anos quando deixou a casa do pai ('toda a minha fortuna era um terno riscado', disse) para se casar. Mas já antes disso, Zé, era atormentado por uma voz misteriosa e visões estranhas que aparentavam ser um homem alto de bata branca acompanhado de outros com a mesma indumentária e que parecia efectuarem uma cirurgia sem fim.
Os zumbidos na cabeça aumentavam e o corpo ficava dormente. Zé debatia-se para controlar o incontrolável, até que a entidade se manifesta e apresenta-se como cirurgião alemão, Adolf Fritz, morto na primeira grande guerra. A incorporação passa à realidade.

A partir de 1955, a vida de Zé Arigó e da sua cidade de Congonhas do Campo, nunca mais será a mesma. Durante mais de quinze anos, milhares de pessoas passaram pelas suas mãos, a uma estonteante média diária de mais de três centenas de pacientes à espera de um milagre. A todos, Zé, atendia no seu espartano consultório, onde uma secretária e cadeiras toscas serviam de mobiliário, uma resma de papel que seriviria de receituário e, claro, o seu 'intrumento cirúrgico': a faca de cozinha.
Sem a mínima assepsia presente, a faca numa mão e um crucifixo na outra, milhares foram operados, sem qualquer anestesia, a cataratas, aos pulmões, ao fígado, a tumores.

Zé Arigó, entrava no seu 'consultório' como o homem do campo que era, mas assim que dava início às suas intervenções, era nítida a transformação: a voz segura e com sotaque alemão, os termos técnicos utilizados, a precisão do diagnóstico eram evidentes. Fritz comandava Arigó.

Estas diárias consultas, só foram interrompidas pela prisão de Zé, em '56 e '64, acusado pelas autoridades médicas de Minas Gerais, de curandeiro. Indultado, na última, pelo próprio Kubitschek -presidente da república à altura- ao qual, Zé, tinha curado um parente seu.
Na verdade, nunca houve qualquer queixa por parte das pessoas intervencionadas; a realidade mostrou a(s) cura(s) e para a qual a medicina convencional não soube nunca explicar, mesmo quando os seus diagnósticos, intervenções e receitas passaram pelo crivo de uma apertada junta médica norte americana. Tudo o que ele fez estava absolutamente correcto.

Zé tinha a paixão pelas roseiras e a elas dedicava meia hora do seu dia, que começava às 6h da manhã, com uma breve pausa de almoço e alargava até final da tarde. Zé Arigó sabia que a sua missão na terra estava próxima do fim, só não sabia quando. Foi a 11 de Janeiro de 1971, num acidente de viação quando se dirigia para cuidar das suas roseiras.
Não foi por acaso que mais de vinte mil pessoas acompanharam o funeral e todas as suas rosas fizeram também de última companhia.

Créditos: imagem SRD