18/09/2008

Estado Novo


[...] Joãozinho de Alcochete, célebre médium do sul do Tejo, visita-o também. Salazar, chama-o ao saber da sua ida a Buckingham Palace. "Sim, a Rainha Isabel mandou-me buscar num avião da Força Aérea inglesa e eu fui", contou-me [Joãozinho] pouco antes de morrer, vai para 15 anos. "O quarto dela estava assombrado, ouvia-se de noite um choro contínuo que a não deixava dormir. Percebi que havia algo de estranho na parede junto à sua cama. Mandei um pedreiro picá-la. Dentro estava um esqueleto. Era de uma criada que um antepassado da monarca fizera desaparecer por ter ficado grávida dele."
O ditador diverte-se com a história. Durante muito tempo um elemento da secreta vai, discretamente, buscá-lo e levá-lo. [...] Antes da segunda guerra [mundial] uma astróloga predisse-lhe: "Vai haver muitas lágrimas,mas não sangue, em Portugal", antes da guerra em África, outra preveniu-o "O futuro é muito confuso, não tem luz para si". 
Salazar nem se perturbou. Nos períodos de grande tensão ganhava uma frieza, uma implacabilidade impressionantes.[...]
Observa Fernanda de Castro: "Ultimamente o seu espírito baixa muito aqui e pergunta sempre porque lhe querem tão mal"
Outros, noutros lugares, como no centro espírita da Praça de Espanha, recebem dele a mesma pergunta.
Fernanda Moreira, uma médium falecida na década de 80, mulher de magnetismos que perturbavam Salazar, encarnou-o no Verão de 1975.
"Foi quando assistíamos, na sua casa da Rua do Ouro, a uma manifestação da Intersindical", conta-me Diamantino Antunes, ex-presidente da Federação Espírita. "De súbito, ela voltou-se para mim e disse "Olhe, está ali o senhor doutor Oliveira Salazar sentado num sofá. Tem a cabeça entre as mãos, vai precisar de sofrer muito."

O presidente do Conselho confiscou, recorde-se, todos os móveis e imóveis daquela Federação. Entre eles. o edifício da sede, o cinema Rex (depois Teatro Laura Alves), no Martim Moniz. Esses bens não foram restituídos -ao contrário do que aconteceu, depois do 25 de Abril, com os da Maçonaria- aos seus antigos proprietários, [...]

in 'Máscaras de Salazar' de Fernando Dacosta. pag. 340 a 342. ISBN 978-972-46-1694-0