19/01/2022

(memórias dos cheiros do menino lisboeta de volta a terra natal )(22

(memórias dos cheiros do menino lisboeta de volta a terra natal )(22) Quando voltei para Lisboa , para viver com os meus tios na Rua do Socorro na Mouraria, comecei finalmente, pelos meus 9 anos a conhecer a cidade onde tinha nascido e que nunca conhecera antes. Ali na Mouraria arrisco-me a dizer no coração de Lisboa, estavam as pessoas e os cheiros que eu nunca tinha visto ou sentido. Sim os cheiros ficam na memória, aquele meu percurso diário de ida e volta para a escola na Praça da Figueira ,gravou-me o inconfundível cheiro das iscas, que assaltava o nariz e o palato dos passantes, nas várias tascas da zona Um cheiro só comparável ao das bifanas na Rua Barros Queirós, onde não passo há muitos anos mas julgo que ainda hoje existe Em frente à minha casa, havia a garagem da empresa Capristanos e talvez por isso e não só abundavam inúmeros homens vestidos de ganga azul, com cordas grossas enfiadas ao ombro. Penso que seriam "alugados" para transporte de mercadorias às costas . Não sei se seriam os mesmos, mas confundiam-se com a figura do limpa chaminés., que acrescentavam ao ombro um molhe de carqueja Lembro-me de bateram á porta da rua, com aquelas maçanetas pesadas, cujos batimentos indicavam a que andar se destinava o batimento , depois de devidamente contado o número de pancadas e repenicado no fim se fosse para o lado esquedo do andar. Algumas vezes ouvia a ordem " calem-se não façam barulho", depois explicada, que era para não atender o limpa-chaminés, porque uma vez atendido , ninguém podia fugir à intimação para a limpeza obrigatória da chaminé É que ninguém gostava do trabalho deles , que depois de feito deixava as cozinhas sujas de fuligem (continuará)

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